Esta semana pensei em compartilhar um conteúdo mais técnico, mas fiquei pensando na situação que vivemos hoje, nas expectativas para um novo ano… e por fim decidi compartilhar com vocês uma memória de infância que me traz muita inspiração. Acho que tem tudo a ver com o momento que estamos vivendo, e com as expectativas para o novo ano (melhor, se Deus quiser!) que se aproxima.
Quem me vê hoje pode até pensar que nasci em berço de ouro, mas a realidade é bem diferente. Sou o mais velho de cinco irmãos, e houve épocas em que precisei “disputar” o berço – que não era de ouro – com eles, pois dormíamos todos no mesmo quarto. Mas, se o berço não era de ouro, ao menos as paredes eram!
Vou explicar.
Vivi meus primeiros anos de vida em um lar calmo e sereno. Meu pai era sócio de uma construtora ao lado de meu tio, e tudo corria bem nos negócios e na família.
Então, literalmente da noite para o dia, tudo mudou. Naquela época, a inflação era tão alta que a única maneira de conservar o valor de suas economias era investir no chamado overnight, uma aplicação em que seu dinheiro ficava retido de um dia para o outro. Caso contrário, perdia-se até 80% do poder de compra a cada mês.
Meu tio investiu quase todo o dinheiro da construtora em uma dessas aplicações, mas acabou tendo um contratempo. A empresa perdeu praticamente tudo, e meus pais foram obrigados a se mudar com os cinco filhos para um apartamento apertado no bairro Cristal, na zona sul de Porto Alegre.
Para nós, crianças, não era tão ruim: morávamos no térreo, e meu pai, talvez se sentindo sufocado pelo excesso de problemas, mandou abrir uma porta que dava para a rua. Por isso, nem parecia um apartamento – podíamos sair para brincar quando quiséssemos, como se morássemos em uma casa. Contudo, mesmo aos nove anos (minha idade na época) eu já percebia que as coisas andavam difíceis.
Não posso dizer que passamos fome, porque estaria mentindo, mas chegamos perto disso. Foram tempos duros. Eu reparava como nas datas comemorativas a criançada da vizinhança ganhava presentes, mas para mim e meus irmãos as festas sempre passavam em branco.
Mas minha mãe nunca se deu por vencida: ela tinha uma habilidade fantástica para injetar esperança em nossos corações. Se não podia dar presentes materiais, compensava isso com momentos especiais. Ela chamava:
– Filhos, venham aqui, sentem ao meu redor.
E nos sentávamos os cinco na sala para ouvir suas histórias. Ela criava narrativas lúdicas que nos transportavam para mundos diferentes, onde a imaginação era o único limite.
Lembra quando comentei que as paredes de nosso apartamento eram de ouro? Pois é, essa era uma das histórias:
– A gente não consegue ver, mas a parte interna dessa parede aqui está cheinha de ouro. Esconderam ali dentro quando construíram o prédio. Também há um tesouro enterrado logo abaixo do quarto de vocês. Está ali, para quando precisarmos.
Meus irmãos e eu planejávamos o que faríamos com as moedas de ouro, pensando no futuro e esquecendo as dificuldades do presente. Envolvidos pela magia do momento, transformávamos angústia em esperança. Funcionava tão bem que às vezes, quando estava desanimado, meu irmão mais novo pedia:
– Mãe, vamos sonhar juntos?
De uma maneira ou outra, aquilo ficou embutido em mim para sempre. Mais tarde, durante os períodos mais difíceis que vivi, evoquei essa memória para lembrar que podemos controlar nossa mente. Podemos afastar os pensamentos ruins, questionando-os ao invés de alimentá-los. Com isso, aos pouquinhos e muito ao natural, conseguimos expulsar todo e qualquer desânimo.
A explicação para isso é muito simples: o nosso organismo é uma máquina maravilhosa feita pelo Criador. A única máquina do mundo capaz de animar a si mesma. Minha mãe sabia disso, e o fazia com uma maestria fantástica e a sabedoria de uma rainha.
Achou que rainha é exagero? Mas não fui eu quem disse! Ela mesma contava, em outra de suas histórias:
– Acho que nunca comentei, mas quando era pequena eu era uma rainha…
Muitos anos mais tarde, ao assistir A Vida é Bela (se
você nunca viu, faça esse favor a si mesmo!), não pude deixar de pensar nela. No filme, os protagonistas também criam histórias para enfrentar as maiores dificuldades imagináveis. Com isso, conseguem levar suas vidas e manter acesa a chama da esperança.
No fim das contas, as coisas que nos acontecem não importam tanto quanto nossa reação a elas. E ainda mais importante que a força para reagir é a capacidade de sofrer os golpes da vida e seguir em frente mesmo assim.
O ano de 2020 nos lembrou de uma mensagem importante: dias ruins são inevitáveis. Estamos passando por uma pandemia muito difícil. Mas precisamos manter a esperança. Jamais podemos esquecer que nós, brasileiros, vivemos em um país abençoado, que nos dá muito mais coisas do que tira.
Por isso, mantenha a cabeça erguida e a esperança viva. Valorize a importância de poder passar momentos com as pessoas que você ama, algo que hoje se tornou um luxo. E, principalmente, não deixe de sonhar. Faça planos para as moedas de ouro escondidas embaixo de sua sala, ou para as barras escondidas nas paredes de sua casa. Com o tempo, assim como aconteceu em minha vida, você descobrirá maneiras de viabilizar todos esses sonhos sem nem precisar encostar no ouro.
2021 está à nossa porta com a promessa de um ano melhor. Por isso, invista em seus pensamentos positivos, expulse as sensações ruins de seu corpo e vamos em frente!
Desejo a você e à sua família boas festas e um ano iluminado.
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Um grande abraço,
Granvas.