Essa é uma pergunta que muitos alunos já me fizeram e, tenho certeza, muitos outros ainda farão. Por isso, decidi respondê-la já de antemão, para todos os interessados em meu trabalho e meus cursos.

A resposta começa quando o meu apartamento quase foi a leilão, e eu muitas vezes sentia que estava sendo vítima de uma grande injustiça.

Eu pensava: como a lei permite que um pai de família fosse despejado assim, sem mais nem menos, ao lado da mulher e dos dois filhos? Não foram poucas as vezes em que senti raiva do sistema que tornava aquilo possível.

Hoje, entendo por que me sentia assim: é difícil ver as coisas de uma perspectiva externa quando estamos com a corda no pescoço.

Com distanciamento temporal, no entanto, consigo ver que estava analisando apenas um aspecto isolado de um grande e complexo sistema que não tem por objetivo tirar a casa das pessoas, mas justamente o contrário: sua função principal é garantir que trabalhadores tenham acesso à casa própria.

Se não existissem os leilões judiciais, os juros das prestações de um apartamento ou casa popular seriam muito mais altos. Na verdade, tão altos que comprar um imóvel a prestações seria praticamente inviável para a imensa maioria da população.

O sistema funciona assim: quando alguma pessoa física ou instituição empresta dinheiro, ela está assumindo um risco. Os juros nada mais são do que a precificação desse risco. Sem eles, o fornecedor de empréstimo poderia perder a quantia emprestada a troco de nada. Com eles, emprestar vale a pena porque há uma remuneração pelo risco assumido. É natural, portanto, que a remuneração pretendida seja tão alta quanto o risco.

Por outro lado, se o credor tiver garantias, poderá fornecer juros mais acessíveis.

Em resumo: se a probabilidade de calote fosse muito alta, os juros também seriam, e quase ninguém teria condições de pedir dinheiro emprestado.

A solução criada para driblar esse problema foi a cessão do próprio imóvel como garantia em empréstimos imobiliários. Nesse cenário, caso o pagador dê calote, a instituição fornecedora de crédito não precisa arcar com um grande prejuízo, pois poderá levar o bem a leilão.

Na prática, isso ajuda a vida de todos os bons pagadores: se não fosse por esse sistema, o financiamento de um imóvel (um tipo de crédito relativamente barato, se comparado a outras modalidades de empréstimo pessoal) seriam muito maiores, e centenas de famílias jamais teriam condições de realizar o sonho da casa própria, por mais responsáveis e organizadas que fossem.

Por isso, você não deve se sentir culpado ao participar de um leilão. Muito pelo contrário! A existência dos leilões permite que milhões de pessoas garantam o seu teto e dependam apenas de seu próprio esforço e organização.

Lembre-se: não é fácil para mim dizer isso, pois já estive dos dois lados do balcão. No entanto, se o analisarmos em sua totalidade, é fácil afirmar que o sistema de leilões é benéfico para a sociedade.

Como conclusão, aponto que os leilões são uma oportunidade para fazer bons negócios e, de quebra, auxiliar indiretamente inúmeras famílias no país inteiro.

Grande abraço!